terça-feira, 14 de outubro de 2014

Monumentos históricos



A palavra monumento, etimologicamente, significa aquilo que o nosso espírito faz recordar. Deste modo, considerar-se monumento, qualquer coisa que, por sua antiguidade, pelo seus valor artístico, possa ser utilizada como elemento de estudo ou pesquisa, evocando persosagens do passado, aspectos culturais e religiosos.

Neste particular, apesar dos seus duzentos anos de paróquia, o Apodi pouco ou quase nada tem a apresenta, a não ser a Igreja Matriz, construída no século XVIII, onde ainda existe uma apreciável coleção de imagens, verdadeiras obras de arte sacra. Fazendo parte desse importante relicário artístico-religioso, destacam-se as imagem de São João Batista de Nossa Senhora da Conceição, importadas da Europa no Século XVIII, padroeiros da cidade, além de outras estátuas, símbolos e objetos de considerável valia.

Edifício da Intendência Municipal de Apodi, antigamente a Prefeitura Municipal funcionava na parte de cima, e a Cadeia Pública de Apodi embaixo.


Prédios e outras obras construídas na antiguidade em Apodi, entretanto, e posteriormente demolidos pelos nossos antepassados, poderiam figurar, atualmente, como monumentos históricos de real significação. Dentre os que desapareceram através dos tempos, alguns em época mais recente, pela ignorância de administradores que não souberam preservá-los para o futuro, merecem referência o edifício que serviu de Intendência Municipal e Cadeia Pública e o antigo cruzeiro. Este último, talvez o maior do Estado, teria sido construído em frente à matriz, segundo uma lenda que ainda persiste, e era contada pelos mais velhos, como pagamento de uma promessa – feita pelos católicos da terra, para fazer cessar uma terrível epidemia que atacou a população em época muito remota.

É lamentável, sabermos, ainda, que diversos objetos e símbolos que ornavam nossa matriz, usados nos seus rituais religiosos, foram vendidos, embora com a melhor das intenções, pois, o produto da venda foi destinado a obras da igreja. Essa atitude, porém, tomada sem maiores justificativas, desfalcou sensivelmente o acervo da velha matriz do Apodi.

Também com relação aos arquivos, de entidades públicas, católicas, particulares, onde o documentário é a testemunha autêntica da história, verificou-se perda de importantes livros e documentos alusivos aos acontecimentos do passado.

Assim, os elementos básicos, os registros que poderiam servir de preciosas fontes informativas para um estudo mais detalhado da história local, aparecem bastante falhos e fragmentados, devido ao abandono a que foram relegados, perdendo-se e inutilizando-se boa parte deles.

Fonte: Apodi no Passado e no Presente – Vàlter de Brito Guerra – 2ª Edição, 1982.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Deputados Estaduais de Apodi

"Deputados Estaduais de Apodi", que representaram o município e a cidade de Apodi na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte(ALRN)

1.  TENENTE-CORONEL ELIAS ANTÔNIO CAVALCANTE DE ALBUQUERQUE - A Vila e o município de Apodi foram criados em 11 de Abril de 1833 pelo CONSELHO PROVINCIAL - Ainda não existia Assembleia Legislativa. Com a criação desta, no ano de 1835, a mesma só CONFIRMOU a emancipação política de Apodi, em sessão ocorrida a 23 de Março de 1835. Logo que foi Criada a Assembleia Legislativa Provincial, também conhecido como Congresso Legislativo Provincial (Em 1835) Apodi já se fez representar elegendo Elias para o triênio 1835-1837, reelegendo-se duas vezes 1838-1839 e 1840-1841, retornando com a terceira reeleição para o biênio 1852-1853.

2. PADRE FLORÊNCIO GOMES DE OLIVEIRA - Foi eleito no biênio 1852-1853, teve duas reeleições 1854-1855 e 1856-1856;

3. ALEXANDRE MAGNO DE OLIVEIRA PINTO - Foi eleito Deputado Provincial ao Congresso Legislativo Estadual, que é a atual Assembleia Legislativa (Período Monárquico) para o biênio 1862-1863.

4. SEBASTIÃO CELINO DE OLIVEIRA PINTO  - Somente sete anos após Apodi elege outro filho da terra o Capitão SEBASTIÃO CELINO DE OLIVEIRA PINTO, (Capitão Tatão da Ponta) irmão de Alexandre Magno, para o biênio 1870-1871. Novamente o município passa longo tempo sem representante no parlamento estadual, voltando a eleger dois filhos da terra ao mesmo tempo, 17 anos após, para o biênio 1888-1889, os Srs. Capitão SEBASTIÃO CELINO DE OLIVEIRA PINTO e JOÃO NOGUEIRA DE LUCENA SILVEIRA.

5. JOÃO NOGUEIRA DE LUCENA SILVEIRA - (Era Bisavô de Sêo Chico Paulo (Francisco Paulo Freire) - Foi eleito para o biênio 1888-1889.  

6. ANTÔNIO FERREIRA PINTO(CEL. FERREIRA PINTO) – No Período Republicano, Apodi elege o Coronel ANTONIO FERREIRA PINTO para a terceira legislatura e triênio 1895-1897, reelegendo-se sucessivamente 04 vezes até o ano de 1909, quando faleceu.

7. CORONEL JOÃO DE BRITO FERREIRA PINTO - Foi eleito Deputado estadual a 19.09.1901 para completar o quinto mandato do seu genitor, o Cel. Antonio Ferreira Pinto. Foi reeleito em setembro de 1913 para o triênio 1913-1915. João Brito foi eleito para o terceiro mandato cumprido durante o triênio 1921-1923

8. FRANCISCO FERREIRA PINTO(CEL CHICO PINTO) - Eleito em 1927 para o triênio 1927-1929, tendo sido destaque por ter sido o único político da região Oeste Potiguar a exercer, ao mesmo tempo, os cargos de Prefeito e Deputado Estadual, conforme permitia a legislação eleitoral da época. 

 9. COSME CORSINO DE LEMOS - Foi eleito Deputado Estadual representando o município e a cidade de Apodi a 19 de Janeiro de 1947. Esta legislatura promulgou a Constituição Estadual de 25 de Novembro de 1947, quando então o município de Apodi, através de Projeto-de-Lei de autoria do Deputado Cosme Lemos, voltou à condição de Comarca Judiciária, que tinha perdido para Caraúbas, por influência e tráfico de poder do então Desembargador Felipe Guerra no ano de 1931, mancomunado ao seu cunhado Tilon Gurgel, ficando assim Apodi sujeito à Caraúbas, na condição de Termo Judiciário. Em 31 de outubro de 1951 p deputado estadual Cosme Lemos, representante do Apody no Legislativo Estadual, conclui o seu mandato. Eleito que fora para a 17ª legislatura. Segundo o historiador Câmara Cascudo, esta 17ª composição legislativa foi uma das mais sugestivas pela intensidades, nível intelectual e diversão dialética.

10. DR. NEWTON PINTO – Em 03 de Outubro 1950,  Apodi elege o Dr. NEWTON PINTO para o quatriênio 1951-1954. Foi reeleito em 03 de Outubro de 1954 para o quinquênio 1955-1959. Segunda reeleição a 03 de Outubro de 1958 para o quinquênio 1959-1963.

11. DR. JOSÉ DA SILVEIRA PINTO(ZÉ PINTO) – Em 7 de Outubro de 1962 Apodi elege o Dr. JOSÉ DA SILVEIRA PINTO para o quinquênio 1963-1967. Foi reeleito  nas eleições  estaduais de novembro de 1966 para o quinquênio 1967-1971. 

De 1971 até os dias atuais não elegemos mais nenhum APODIENSE para representar o nosso honrado e histórico município no Legislativo Estadual, fato que se deve à desunião dos Apodienses, que através de seus líderes políticos barganham seus apoios mediante recompensas econômicas. Daí o atraso que atravanca o progresso e o crescimento do município. 

"Se todos nós Apodienses nos unirmos para votarmos em um só conterrâneo, com certeza o elegeremos. Ocorre que existem os tais líderes políticos de 200, 300 votos que fazem opção por vender os seus apoios por algum punhado de reais. Triste, mas é verdade. Tem muito cacique pra poucos índios." - Marcos Pinto. 

Fonte: Marcos Pinto - historiador  e advogado apodiense

* Francisco Verissimo - Blog Fatos de Apodi - Portal Fatos do RN 

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Tipos populares de minha amada Apodi(I) - Edite Pêi-Pôu

Edite Pêi-Pôu

"Os tipos populares das cidades interioranas representam a alma das ruas em perene interação com as imagens cotidianas" (Marcos Pinto).

Na expansão da coletividade surgem, não raro, situações esdrúxulas e hilárias personificadas em pessoas que trazem consigo diferenças comportamentais, que os destacam no contexto do desenrolar de fatos que marcam o cotidiano, de forma indelével. Tais protagonistas são comumente conhecidos como sendo os famosos "Tipos Populares", contagiantes do espírito integrante da coletividade. Costumo dizer, de forma reiterativa, que toda cidadezinha do interior que se preza tem em seus exóticos personagens, referenciais inconfundíveis em termos de assédios sentimentais. São figuras exponenciais que se destacam por suas ligações nostálgicas em homens e mulheres que, de uma forma ou de outra, marcaram o ócio bem-aventurado da nossa infância.

No contexto dos ditames psíquicos das tradicionais famílias sertanejas, há fatos amalgamados na tradição oral atestando que vetustos componentes enveredaram por liames comportamentais nada recomendáveis em termos de conduta personalística. Não raro, atribuíam-se a distúrbios psíquicos que fugiam às severas regras das convenções sociais. No caso da nossa personagem, atribui-se à predominância familiar de inúmeras incidências de componentes que caíram numa depressão de espírito que tocava as raias da loucura.

A nossa saudosa EDITE LEITE NORONHA, popularmente conhecida como EDITE PÊI-PÔU descendia de duas famílias tradicionais do rincão Oeste potiguar - FERREIRA LEITE e NORONHA. Essa certa nobreza proporcionou-lhe o usufruto das condições peculiares à chamada classe média. Edite foi registrada como sendo EDITE LEITE NORONHA. Nasceu naquele casarão senhorial onde residiu o Sr. TIÃO PINTO, à rua Nossa Senhora da Conceição, a 28 de Agosto de 1913, filha legítima do Sr. Frutuoso Américo de Noronha, antigo carcereiro público e funcionário público municipal, e de Maria dos Anjos Ferreira Leite. Contam prezados conterrâneos octogenários, que a Edite quando adolescente infligira vários martírios físicos à sua genitora, tais como picá-la com uma agulha de costurar, e queimaduras com pontas de cigarros, sofrimentos impossíveis de serem contidos pela sua mãe devido seu adiantado estado de senilidade (Caduquice). Acredito que esse inconcebível comportamento da Edite já era reflexo de sua falta de sanidade mental. Era tia materna de Tião Pinto, ou seja, era irmã da avó paterna de Klinger Pinto.

O falecimento dos seus genitores acentuou-lhe os assédios da loucura, levando-a a vagar pelas ruas do famoso "Quadro da Rua", que é aquela parte do centro da cidade que compreende as casas que ladeiam a Igreja-Matriz e a Praça Getúlio Vargas. Era comum vê-la falando sozinha, altas horas da noite, imersa na escuridão e no silêncio sepulcral da então pacata cidade de Apodi, como também em noites de lua cheia. Naquela época, o tempo parecia ser medido em conta-gotas, tão grande era a tranquilidade reinante. Dizia-se que até se podia andar pelado depois da meia noite que ninguém dava notícia, pois não havia viva alma transitando nas ruas. E por falar sobre esse saudoso tempo, me vem à lembrança um fato pitoresco protagonizado pelo primo Itamar Maia, cujo fato me fora relatado pelo meu saudoso pai Geraldinho de Aristides Pinto. No início do ano de 1952 o meu pai estava recém-casado com minha autora dona Santina, quando por volta da meia noite acordaram sobressaltados com a voz alta de Itamar, muito embriagado, que se fazia acompanhar por uma mulher de vida livre (prostituta) determinando à mesma que marchasse em cadência de desfile militar na calçada da residência: Atenção ! Marche ! um, dois, um , dois, um dois !. Movido pela natural curiosidade, meu pai abriu um pouquinho a porta da frente e pode ver o primo Itamar Maia apontando o revólver para a assustada mulher, que estava totalmente despida. Ocorre que minha mãe também quis ver a estranha cena e seus protagonistas, ocasião em que meu pai advertiu-a para que não visse, pois se tratava de Itamar bêbado com uma prostituta totalmente pelada, e desfilando sob coação de uma arma de fogo apontada para ela. Satisfeito em sua presepada, o Itamar logo partiu para outro destino.

A Edite Noronha tinha a matraca sempre presente em seu conhecido tumulto sonoro, repleto de palavras de baixo calão. A origem do apelido PÊI-PÔU atrela-se a um fato ocorrido por volta do ano de 1955. Como habitante das ruas desertas imersas na escuridão da noite, a Edite perambulava pela Rua Tiradentes, aí por volta da meia noite, sem emitir qualquer palavra. Ela estava na hora errada, no local errado. Ocorre que o motorista do Caminhão do Coronel Lucas Pinto, Sr. Abel Medeiros, popularmente conhecido como Abel Pé-de-Quenga, havia chegado de viagem há cerca de duas horas, e após jantar, postou sua cadeira do tipo "Espreguiçadeira" na calçada, para usufruir do frio da noite. Era ele natural da cidade de Remígio-PB, onde tinha muitos desafetos, conforme sempre afirmava. Ao ver um vulto caminhando em sua direção, temeroso perguntou quem era, recebendo um silêncio como resposta. De imediato sacou do seu revólver e fez um disparo de alerta, apontando para os tijolos da sua calçada, que não era cimentada. A bala ricocheteou no tijolo e foi alojar-se na virilha da doida Edite , sendo certo que ao ser atingida a Edite prostrou-se no chão, ao mesmo tempo em que gritou : Abel, você me baleou. Ao reconhecer a voz da Edite, o Abel jogou o revólver sobre a "espreguiçadeira" e foi socorrer a Edite, deixando-a sob os cuidados de sua esposa, tendo ido imediatamente à residência do Coronel Lucas Pinto, onde após narrar o incidente, conduziu o caminhão para sua residência, e de lá seguiu para Mossoró, onde a Edite foi submetida a cirurgia bem sucedida, sem correr riscos de morte.


Como tudo que acontece de estranho/ pitoresco nas cidadezinhas do interior passa a ser referencial nas conversas de esquinas, logo a doida Edite passou a sofrer achincalhes de gaiatos e de meninos traquinas, que ao vê-la passar resmungando palavras desconexas, de bate-pronto lhe perguntavam:

- Pêi-Pôu, cadê Abel ?.

- Tá no rabo da rapariga sua mãe sêo fresco ! respondia a doida, profundamente irritada, continuando o palavrório esculhambatório. Esses achincalhes e provocações acabaram por levá-la a mudar sua residência para Mossoró, onde após vagar cerca de um ano pelas ruas, foi internada por parentes no Abrigo de idosos Amantino Câmara. Como era fervorosa eleitora de Aluízio Alves, só andava vestida com roupas verdes. Em Mossoró passou a ser conhecida como "Perereca". Faleceu em Mossoró por volta do ano de 1989.

Marcos Pinto é historiador e Presidente da Academia Apodiense de Letras (08.08.2014).

domingo, 20 de julho de 2014

Uma professora leiga futurista

UMA PROFESSORA LEIGA FUTURISTA

Por JOSÉ LOPES DE OLIVEIRA¹

O Brasil é o país líder mundial no fenômeno da mobilidade social da sua população, antes predominantemente rural, hoje majoritariamente urbana, conforme estudos publicados e divulgados na revista Veja. Os atuais empreendedores seja na área privada ou na área estatal, nos mais diversos ramos de serviços, são oriundos das classes sociais mais baixas. Estas conquistaram largos espaços; galgaram muitos degraus na pirâmide social; foram agentes de transformação social e econômica deste país. 

Neste contexto se assenta a professora leiga, titular de uma escola rural do Município de Apodi, Estado do Rio Grande do Norte, que veio ao mundo com a missão de vencer barreiras, o que fez com maestria. Era considerada por seus alunos e por quem a conhecia: “a mais adiantada mestra da região”. O que significava um professor adiantado? Era o educador capacitado, bem instruído, que ensinava bem; seus alunos aprendiam.

Diziam os educadores da sede urbana de Apodí: os alunos vindos daquela escola rural, em que pese autorizada a lecionar somente até o 3º ano primário, chegam bem preparados, recebem ensinamento além do conteúdo exigido para o 3º ano; eles não têm dificuldade para continuar os estudos na cidade. Concluem facilmente o curso primário e quando querem prosseguir nos estudos ingressam sem obstáculo no curso ginasial.

Para os que não sabem, até os idos dos anos de 1960, o curso primário só se completava com o 5º ano. Era a primeira fase do hoje ensino fundamental, que, àquela época, se dividia no curso primário (cinco anos) e no ginasial (quatro anos). Eram nove anos, sem contar o período de alfabetização, tudo para concluir o que se chama hoje de ensino fundamental, para em seguida ingressar, no segundo grau, este hoje denominado de ensino médio.

Essa professora, bem formada no seu curso primário, procurava transmitir todo conteúdo que aprendeu, mesmo lecionando somente da alfabetização ao 3º ano primário. Por isso seus alunos andavam bem no 4º e 5º ano primário nas escolas da cidade. Por isso, essa professora, que concluiu o velho curso primário na década de 1940, era elogiada pelos professores da urbe. Tem um particular: quando ela fez o 5º ano primário, naquele mesmo ano, houve o encurtamento do referido curso que antes só se encerrava no 6º ano. Mais adiante já se concluía o primário no 4º ano; ao final, como é hoje, o primário se fundiu com o ginásio integrando o 1º grau passando a se concluir este na 8ª série.

A seguir, uma síntese da origem e da trajetória desta professora rural leiga, a senhora MARIA ANÁLIA DE OLIVEIRA, principalmente no período compreendido na segunda metade do século passado nas escolas rurais dos Municípios de Caraúbas e Apodí no Estado do Rio Grande do Norte, conforme a seguir.


A senhora MARIA ANÁLIA DE OLIVEIRA nasceu em 20/10/1928, no Sítio Campos, hoje distante cerca de dois quilômetros da sede municipal da cidade de Umarizal/RN; filha de JOSÉ ANTONIO VALDEGER e ANÁLIA ALCIDIA DE OLIVEIRA; era a primogênita das 22 gestações que a sua mãe teve, das quais nasceram 16 filhos que chegaram à maioridade.

Como a primogênita da numerosa família, logo recebeu a incumbência de ajudar a administrar a casa e a criar os seus irmãos mais novos, sendo compreensiva a delegação recebida, pois eram muitos filhos para ficar apenas por conta dos seus pais, na verdade, da mãe, nossa avó. Em conseqüência começou a ser construída sua personalidade: uma mulher forte, ética, rígida, decidida, trabalhadora, patriota, religiosa e muito honesta. Dos bens materiais só lhes interessavam aqueles adquiridos com o seu próprio suor. Muitos dos seus irmãos, até hoje, reclamam das punições físicas que recebiam daquela irmã mais velha, não sendo diferente com os seus próprios filhos. Uma mulher simples, do meio rural, que viveu no século 20 com uma visão muito a frente, do terceiro milênio. Sempre foi adiantada no lugar e no curto tempo que aqui permaneceu.

Apesar das enormes atribuições que recebera ainda criança, não se descuidara de freqüentar a escola, tendo estudado até o 3º ano primário em Umarizal, onde foi colega de classe, só para ilustrar, do ex-senador JOSÉ DE SOUZA MARTINS, que a tratava pelo apelido de Bilía. Fez o 4º e o 5º ano primário na cidade de Martins/RN, por não existir habilitação da escola de Umarizal para ali concluir o curso primário. Morou de favor na cidade de Martins. Recompensava a recepção logística prestando serviços domésticos à família que lhe acolheu. Dizia que não desperdiçava tempo para estudar. O fazia até a noite, aproveitando o claro natural da lua. É de se imaginar que naquela época nem luz elétrica existia em Martins/RN.

Terminou o curso primário aos 15 ou 16 anos, como visto acima, na aprazível cidade de Martins/RN. Confessava a frustração, por seus pais, pobres e com tantos filhos, não possuírem meios financeiros para ela cursar o ginasial, à época, existente somente nas cidades de Mossoró e Natal. Seus pais justificavam que precisavam alfabetizar os demais filhos e não podiam custear seus estudos em Mossoró, cidade, aquela época, considerada muito distante de Umarizal. 

Certamente naquele tempo, ou seja, na primeira metade do século XX, faltavam estradas para os quase inexistentes e precários transportes motorizados, restando como alternativa mais comum o lombo de animais de carga (tropas de burros) ou dos transportes puxados por estes (carroças, carros de boi) ou viajar a pé. Era difícil se deslocar de Umarizal para Mossoró e muito mais distante ficava Natal. 

Hoje o governo proporciona o transporte escolar no meio rural; o que é censurado é a falta destes em alguns lugares ou a qualidade dos referidos transportes noutros. Quanta evolução em tão pouco tempo comparadamente àquela difícil época, de quem, como Maria Anália, desejava alcançar os mais altos níveis da educação ministrável e foi impedida pelo atraso, pelo subdesenvolvimento, pelas dificuldades naturais daquele período, etc.

Impossibilitada de continuar com os estudos formais, ou seja, freqüentando a escola, não largou a sua principal determinação, vocação, que era a educação. Se não tinha mais acesso os bancos escolares para ampliar seus conhecimentos, foi dividir o que adquiriu com quem não o possuía. Então, partiu para lecionar.

Na primeira oportunidade que teve, deixou a casa dos pais. Foi residir no Sítio São Geraldo, na região de várzea do Rio Apodí, no Município de Caraubas, hospedando-se na casa do senhor conhecido, se não me falha a memória, por TIÃO NORONHA, onde passou a lecionar. Morando no Sitio São Geraldo lecionou também na escola do Sítio Boagua na região do açude ou da lagoa do apanhapeixe.

Foi no Sitio São Geraldo que conheceu o jovem e determinado trabalhador rural JONAS LOPES DE OLIVEIRA, analfabeto, operário do senhor SILVÉRIO MARINHO, com quem se casou no dia da festa de São Sebastião, em Caraúbas, no ano de 1950. Foi um casamento surpresa, apelidado, à época, de casamento americano. Devia ser uma forma mais moderna, dado o nome (americano). Tratava-se de casar sem avisar aos pais. 

Naquela época, o normal, seria pedir aos pais a mão da moça para casamento. O seu Jonas a pediu apenas para namorar. Olha, precisava até pedir autorização para namorar! O casamento americano, certamente era mais vantajoso, mais econômico, pois deixava de oferecer e custear festa, começando desde então à vida disciplinada e de economia do seu Jonas Lopes e dona Maria Anália, para proporcionar o melhor para a família que paulatinamente construiriam com o nascimento dos filhos.

Nasceram seis filhos. Só cinco se criaram, ou seja, chegaram à idade adulta. Destes, nasceram no Sitio São Geraldo: o primeiro que viveu cerca de um mês; o segundo ou o primeiro sobrevivente, o autor deste relato, JOSÉ LOPES DE OLIVEIRA e o segundo sobrevivente, JULIMAR LOPES DE OLIVEIRA, hoje domiciliado na cidade de Pimenta Bueno, no Estado de Rondônia, onde é servidor público federal, do quadro do INCRA.

De São Geraldo a jovem família foi morar no Sitio Língua de Vaca, ainda no Município de Caraúbas e na região da várzea do Rio Apodi, não muito distante de São Geraldo, por na localidade ter a época um grupo escolar, onde dona MARIA ANÁLIA foi destacada para lecionar. Seu JONAS continuou operário do senhor SILVÉRIO MARÍNHO. No sítio Língua de Vaca, nasceu a primeira filha do casal e terceira na linha sucessória dos vivos, ANTÔNIA MARLY DE OLIVEIRA  hoje residente na cidade de Cacoal, no Estado de Rondônia, onde é funcionária pública Estadual, no quadro do Tribunal de Justiça.

O casal trabalhava muito, pois o seu JONAS passava o dia para várzea do Rio Apodí, como operário do senhor SILVÉRIO MARINHO. No período chuvoso, quando tinha inverno, o seu JONAS laborava na agricultura. Já no verão, cortava palha de carnaúba e fazia todas as demais atividades de beneficiamento do produto até chegar à apuração da cera de carnaúba, uma árvore nativa, da família das palmáceas, donde se aproveitava tudo (pó, palha, talo e caule) e já foi muito importante na economia daquela região no século passado.

A professora MARIA ANÁLIA, por outro lado, lecionava no grupo escolar de Língua de Vaca, cuidava dos três filhos pequenos e ainda confeccionava roupas para ambos os sexos e idades. Também era exímia fiadora e tecelã, ou seja, uma artesã de primeira. Construía peças de tricô, bordava, etc. Era quem fazia todo o enxoval dos filhos durante o período de gravidez. Com exceção da MARLY, todos os demais filhos nasceram assistidos exclusivamente por parteira, a sua mãe, a nossa avó Anália.

Com o árduo trabalho campesino, ao final de cada ano, seu JONAS, ao fazer o encontro do serviço prestado com as contas objeto de fornecimento de viveres ou adiantamento em dinheiro obtido do patrão SILVÉRIO MARINHO, sempre tinha saldo. Com este, comprava um animal, seja uma novilha bovina ou uma cabra (caprina) boa de leite. Assim o seu JONAS e a dona MARIA ANÁLIA começavam a criar os filhos e, com muito trabalho e economia, a formar um singelo patrimônio material para o futuro, visando à formação intelectual dos filhos.

Mas como nem tudo são flores, no ano de 1958 teve uma das maiores secas do nordeste brasileiro, oportunidade em que a família perdeu as duas vaquinhas de leite que tinha. Uma, a vaca chamada Fortuna, morreu chifrada por outras disputando Chique Chique e Cardeiro queimados, que eram servidos como alimento aos famintos animais, em face da horrenda seca. Essas cactáceas serviam de alimento até para os humanos. O miolo do Cardeiro, assado, tem ligeiro sabor de macaxeira, é o que lembro quando o experimentei ainda criança. A outra vaca, que não lembro o nome, morreu em conseqüência da mordida de uma cobra cascavel. Mas o importante é que a família sobreviveu àquela seca. Na oportunidade o seu JONAS prestou algum serviço nas frentes de emergência; recebia como pagamento do serviço de cassaco: Feijão Preto, Farinha, Jabá, etc., lembra muito bem o autor deste escrito.

Em 1960 é que tem início a saga da professora MARIA ANÁLIA e sua família no Município de Apodí. Seu marido, o seu JONAS, fora convidado pelo proprietário de terras na Chapada do Apodí, o senhor ABILIO SOARES DE MACEDO, conhecido por todos pela alcunha de Mestre Abílio, para ser vaqueiro do mesmo e para que a dona MARIA ANÁLIA lecionasse naquela longínqua localidade, distante 21 km da sede do Município de Apodí. 

O seu JONAS substituiria o senhor PAULO DE MANÚ que se despedia da função de vaqueiro de Mestre Abílio e, a dona MARIA ANÁLIA, substituiria a esposa do vaqueiro que saia, a senhora conhecida por JÚLIA de PAULO, que atuava como professora naquele lugar, denominado Sítio João Pedro, sede da Fazenda de Mestre Abílio, localizado a uma légua e meia de distância do Sítio Soledade e há três léguas e meia da cidade de Apodí.

Foi em 20 de janeiro de 1960, também no dia de São Sebastião, que a família, transportada num Caminhão Chevrolet modelo 1948, de propriedade de JOÃO DE ARTUR, conduzido por ALDECÍ DE MARTINHA, pai do apodiense hoje professor de educação física ALDECÍ BEZERRA JUNIOR conhecido como JUNIOR DE ALDECI, mudou-se para o sítio João Pedro, no Município de Apodí, para atuar nos sobreditos ofícios (vaqueiro e professora).

A professora Maria Anália, comprometida com seus desígnios, acabara de chegar às terras apodienses, para lecionar naquela isolada localidade rural. Afirmava dona Maria Anália que alguns dos anos que lecionou nas localidades anteriores, no Município de Caraubas, não teve remuneração, uma prova de que a sua missão estava acima dos bens materiais. Foram nove anos prestando serviços ao Município de Caraubas, sem nomeação, somente como prestadora de serviços.

Quando veio para o sítio João Pedro, apesar de que já passara por ali e lecionara a senhora JULIA DE PAULO, a escola ainda não se encontrava formalmente criada. Mas, não demorou muito, por empenho do patrão Mestre Abílio, o Estado oficializou a criação da escola com o nome de Escola Isolada Sítio Soledade, apesar de localizada no sítio João Pedro e, a localidade de Soledade ficar há uma légua e meia de distância dali. Deve ter havido algum equivoco na denominação, mas, o importante, é que a escola foi criada, e a professora fora contratada pelo Estado do Rio Grande do Norte. 

Acabara, portanto, de ser criada uma escola estadual numa longínqua localidade, na Chapada do Apodí, que todos que desconheciam a denominação de qualquer local naquela região, generalizavam chamando apenas de: a serra. A família foi morar e trabalhar na serra. Maria Anália começou a lecionar logo que chegou, antes de ser nomeada. Deve ter trabalhado sem remuneração por algum tempo aguardando a nomeação.

A população residente no sítio João Pedro, principalmente da circunvizinhança, especialmente da localidade conhecida por Quixabeirinha, era um povo simples, de costumes antigos, normalmente casados entre parentes, cujo patriarca era conhecido como JOÃO DE ZEFA. Povo ordeiro mais bastante primitivo. 

Aquelas famílias descendentes ou parentes do senhor JOÃO DE ZEVA viviam mais de atividade extrativista, ou seja, da caça, da extração de madeira, da coleta de mel silvestre, etc. Cultivavam pouco e quase só para subsistência. Não plantavam frutíferas, ou seja, não tinham pomar. Sequer plantavam verduras para tempero como: cebola, coentro, etc. Não tinham o hábito de criar pequenos animais (galinha, guinê, peru, pato, porcos, caprinos, etc.). Ainda existia fauna silvestre àquela época como: o veado, o porco do mato, o gato maracajá, etc., para suprir a dieta alimentar daqueles moradores primitivos da serra, ou seja, da Chapada do Apodí.

Diante dessa vida de economia extrativista da população local, quando a professora e sua família chegaram ao Sítio João Pedro, era dito por todos que o senhor Mestre Abílio arrumara um vaqueiro e uma professora ricos, pela simples razão de que trouxeram na mudança: uma cabra boa de leite, um saco de farinha, um saco de açúcar, um saco de rapadura, uns sacos de feijão, uma lata de 20 litros de querosene jacaré e alguma mobília como cristaleira, mesa com cadeiras, tamboretes, talheres e outros. Ficara para traz, vindo em outra oportunidade uma novilha bovina filha daquela vaca Fortuna, aquela vaca que morrera disputando chique-chique e cardeiro queimado. Em homenagem a mãe a filha também recebeu o nome de Fortuna. Escapou da seca de 1958, uma fortuna para seus donos.

Os simples habitantes da região, quase todos, não possuíam móveis. Quando eram visitados ofertavam as redes ou tocos (cepos) de madeira para o povo sentar. Não possuíam o costume de guardar viveres para os dias vindouros, ou seja, não acumulavam quase nada. Os filhos de muitos andavam nus até os 15 ou 16 anos de idade. Era o modo de vida deles e que todos respeitavam e com quem a professora lidou para promover radicais mudanças através do ofício educacional.

Uma das grandes missões da professora MARIA ANÁLIA, além de combater o analfabetismo na região, foi estimulá-los a criar galinha, guiné, etc. Foram muitas e muitas vezes doando casais de pintos para as donas de casa, para que as mesmas começassem a criar. Das primeiras vezes não funcionou. Como todo ano as mulheres ficavam grávidas, logo que os pintos cresciam, ficavam franguinhos, o matavam sob a alegação de que tiveram desejo de tomar um caldo de galinha e, que, se não o fizesse abortavam. Lá ia a dona Maria Anália doando mais uma ave doméstica para suprir a que fora abatida, quando não tinha que doar novamente um casal das referidas aves.

Quanto a fruteiras, na casa da professora tinha pés de mamão, banana, seriguela, horta de verduras, etc., e ninguém cultivava isso. Foram vários anos para que começassem a adotar esses novos costumes. Vale registrar o costume de alguns da comunidade da quixabeirinha dividir a caça (tatu, peba, jirita, tamanduá, etc.) com a professora, em troca de que ela fornecesse o tempero (sal, nata de leite, pimenta do reino, etc., e também farinha). Era o sistema primitivo de troca, comum na antiguidade e presente nos costumes daquele povo em pleno século XX.

Tudo que havia de moderno e acessível às condições econômicas da professora e do seu marido foram adquiridos e trazidos para região em primeira mão pelos mesmos. Na localidade de João Pedro, o primeiro Rádio de Pilha, foi adquirido pela professora, por volta de 1961 ou 1962, um rádio da marca SEMP, adquirido em Apodi na loja do finado João de Deus. Aos domingos a casa da professora recebia dezenas de visitas dos que vinham somente assistir o rádio. Sentavam perto do aparelho e ficavam de olho fixo no mesmo, como se querendo enxergar quem estava falando no interior do rádio. Olhos brilhantes e inocentes sem compreender como que acontecia aquele milagre tecnológico das ondas magnéticas. O programa mais assistido aos domingos a tarde era de uma Rádio de Limoeiro do Norte/CE, através do qual as pessoas ofereciam músicas para homenagear amigos, familiares, namorados(as), aniversariantes, etc. Ouvi muito, dentre outras, as músicas: o baile da tartaruga; a escolinha do carequinha; rancharia; etc., no programa dominical daquela Rádio. Também, ouviam-se muito os programas dos repentistas: Antonio Nunes e Juvenal Evangelista; José Pereira e Justo Amorim; João Liberalino e Elizeu Ventania; e, etc. 

Em 1966, a professora e o seu marido, com o fruto de seis anos de muito trabalho, às vezes de até 18 horas por dia, colhidos pelo pagamento de um bezerro a cada quatro que nascia na Fazenda de Mestre Abílio (chamado de tirar a sorte, significava que de cada bezerro que nascia o vaqueiro tinha direito a um quarto e essa era uma das formas de remuneração por tratar do gado bovino, o salário do vaqueiro), mais a venda diária de leite na cidade de Apodí, conduzido pelo seu JONAS, por muitos anos de bicicleta e, por ultimo, quando progrediu mais, num Jeep, adquiriram o foro de uma propriedade rural, vizinha ao Sítio João Pedro, com área de 200 hectares, até hoje pertencente aos seus filhos.

Naquela oportunidade, a família deixou de ser sem terra e o vaqueiro passou a cuidar dos seus próprios animais e da recém adquirida terra, sem qualquer ajuda de programa oficial de reforma agrária, ao contrário do que existe hoje. Nesta propriedade é que a professora trouxe a primeira televisão para região, funcionando a bateria. Não existia eletrificação rural na época Em seguida, outros adquiriram televisão.

Foi no sítio João Pedro que nasceram seus dois últimos filhos: JONAS LOPES DE OLIVEIRA JUNIOR, hoje servidor público federal do INCRA em Natal/RN e, MARLICE LOPES DE OLIVEIRA, a única residente em Apodí, graduada em Ciências Contábeis e hoje ocupando o cargo de Secretária Municipal de Finanças do aludido Município.

Foi o filho primogênito da professora quem primeiro saiu da escola rural para completar os estudos na cidade. Inicialmente terminando o curso primário em Apodí e, logo em seguida, foi para Mossoró, onde se graduou em Engenharia Agronômica no ano de 1976. Foi a partir da saída dos filhos da professora Maria Anália para continuarem os estudos que os filhos do patrão também seguiram o exemplo, como é o caso de FÁBIO SOARES LINS e CLAUDINA SOARES LINS, todos graduados, dentre outros que galgaram a academia tendo sido alfabetizados pela professora MARIA ANÁLIA.

Também a professora abrigava em sua residência filhos de parentes e amigos, que vinham para ser alfabetizados e estudarem até o 3º ano primário. Só para citar um exemplo, tem o senhor JOSÉ WANDILSON DE OLIVEIRA, sobrinho do seu JONAS, que dentre vários, passou por essa experiência com àquela mestre. Hoje o senhor JOSÉ WANDILSON é vereador no Município de Felipe Guerra/RN, já na terceira ou quarta legislatura.

Em 1980, para fazer companhia a filha caçula MARLICE, para que a mesma desse continuidade nos estudos iniciados naquela escola rural, a professora fixou residência na cidade de Apodi. Nessa época, o seu filho mais velho já se encontrava em Rondônia, para onde se mudou em 1977. A professora ainda prestou serviços em colégios da cidade de Apodí até conquistar a aposentadoria.

Maria Anália, por onde passou, sempre se firmou com a sua capacidade natural de ensinar e liderar. Não foi diferente na cidade de Apodí. Procurava participar de tudo, sempre ansiosa por aprender mais, apesar de já muito prendada. Não perdia cursos de bordado, para se aperfeiçoar no que já fazia há muitos anos. Fazia cursos de pintura. Já havia terminado o segundo grau e pretendia ingressar na faculdade.

Logo no primeiro ano de residência na cidade, com sua dedicada atuação na comunidade católica, assumiu a organização denominada Legião de Maria, e participava de vários eventos, inclusive no interior do Município, auxiliando as atividades da Paróquia de Apodí. Era a demonstração da liderança que sempre teve, onde quer que estivesse, inclusive na família. A última palavra na família era sempre a dela. 

Voltando a sua dedicação pela religião, teve um sonho não realizado. Pretendia que pelo menos um filho se ordenasse padre, o que não ocorreu. Esse desejo deve ter surgido na época em que morou na casa de uma família na cidade de Martins, quando foi concluir o primário. Um dos filhos desta família ordenara-se padre. Era o padre Militino, segundo ela.

Como guerreira, educadora, mãe exemplar e esposa que foi, quis o destino que saísse desse plano mais cedo, vindo a falecer precocemente no ano de 1984, com apenas 56 anos, sem ter conseguido o sonho de mudar com o restante da família para o Estado de Rondônia, logo após formasse a filha caçula. Foi servir a Deus, diretamente no Céu. Não teve tempo de curtir os nove netos que os seus quatro filhos casados lhe deram, uma descendência familiar muito menor do que a deixada pelos seus pais que tiveram vivos 16 filhos. Já tem dois bisnetos que somados aos netos ainda não alcança o número de filhos deixados por seus pais.

A escola que fundou em 1960, instalada inicialmente no sítio do patrão Mestre Abílio e, posteriormente, no sítio da família, aquele adquirido em 1966 do senhor JOÃO BENÍCIO, funcionava sempre na própria casa em que a professora e seus familiares moravam, cujo cômodo, durante o dia servia a escola, e a noite se acomodavam os filhos para dormirem. 

A professora que a substituiu na escola rural a partir de 1980, ainda se encontra ali lecionando. Foi aluna da alfabetização até o 3º ano primário da professora MARIA ANÁLIA. Concluiu o Ginásio na sede do Município, Apodí. Trata-se da professora RAIMUNDINHA, conhecida como Raimunda de Zé dos Toucos. Foi pelo esforço da professora MARIA ANÁLIA que a escola não fechou quando a mesma mudou para cidade. Brigou junto aos dirigentes políticos e conseguiu que a sua ex-aluna fosse contratada para que aquela comunidade continuasse se servindo daquela tradicional escola rural.

No ano de 2004, aquela escola foi descoberta pela imprensa. No dia do professor a rede globo mostrou em horário nobre, ou seja, no Jornal da Globo, no interior do Estado do Rio Grande do Norte, no Município de Apodí, a escola rural funcionando debaixo do alpendre da casa sede do sítio.

Em razão da matéria da Rede Globo de Televisão, o poder público resolveu por construir o primeiro prédio escolar para abrigar a referida escola que por 45 anos funcionou sempre na residência da professora, conforme foi demonstrado na reportagem.

Ali, até hoje, uma só professora, leciona da alfabetização ao 3º ano primário, o que não é pedagogicamente recomendável, mas este fato continua a ocorrer em várias localidades deste país. Apesar de pedagogicamente reprovado atualmente, foi dessa forma que a Professora MARIA ANÁLIA, com muita sabedoria e determinação lecionava da cartilha do ABC até o 3º primário para uma média de 35 a 45 alunos, todos ao mesmo tempo. Muitos dos seus alunos venceram estas carências e se graduaram e até Pós graduaram, como é o caso do autor deste texto.

Há ex-alunos daquela modesta escola, alfabetizados e instruídos até o 3º ano primário pela professora Maria Anália, que moram em longínquas regiões do país. Fazem questão, até hoje, de visitar a localidade da escola que lhe oportunizou sair do analfabetismo. Demonstram muito orgulho do aprendizado que aquilataram daquela professora leiga. 

Estes ex-alunos quando ali retornam se emocionam. Regam aquele solo com lágrimas. Agradecem a oportunidade que tiveram de servirem-se do saber transmitido por aquela magistral professora rural. Para citar apenas um, tem o senhor Pedro Virginio, que há anos migrou para as regiões sul e sudeste do país. Atualmente vive no Estado de São Paulo. Sempre que vem visitar os familiares no Rio Grande do Norte vai até a escola, visita a atual professora (RAIMUNDINHA) de quem foi colega na mesma escola; ele faz reflexão do seu passado; se diz feliz por viver bem, sentir-se cidadão, etc. Diz que rememora e repassa um filme da sua vida pretérita. É um dentre as dezenas que adquiriram a dignidade indispensável à pessoa humana; que não ficaram para engrossar as filas dos sem terra, sem teto e das bolsas esmolas; conseguiram migrar para a classe média, no fenômeno da mobilidade social anunciado no início deste texto.

São de brasileiros ou de brasileiras da estirpe da professora Maria Anália que temos de nos orgulhar e de registrar sua memória para posteridade num país que, apesar dos avanços, ainda teima em cultivar grandes desigualdades sociais. Por isso, além de ser seu filho, grato por ela e meu pai ter me oportunizado conquistar a verdadeira cidadania, dediquei algum tempo para buscar na memória e registrar essas lindas lembranças, homenageando minha mãe Maria Anália, e também, sem esquecer de exaltar a figura do grande Pai, o senhor Jonas Lopes, todos verdadeiramente família.

Porto Velho, 20 de julho de 2010.

2. Graduado em Engenharia Agronômica no ano de 1976 pela Escola Superior de Agricultura de Mossoró; Engenheiro Agrônomo do INCRA/RO desde abril de 1977. Bacharelado em Direito pela ULBRA de Porto Velho/RO em 2008. Advogado em 2009. Filho mais velho da Professora.

JOSÉ LOPES DE OLIVEIRA
Email: lopes.oliveira@pvo.incra.gov.br
Email particular: lopesoliveira12@yahoo.com

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Maria Vinda de Oliveira


MARIA VINDA DE OLIVEIRA, nasceu no dia 29 de outubro de 1911, na cidade de Belém do Pará–PA. Filha de Francisca Maria de Oliveira e Pedro Raimundo de Oliveira. Residia na Comunidade Trapiá, Apodi-RN.


Estudou o 1º grau menor e sabia ler e escrever. Além de Dona de Casa era uma excelente costureira, fazia costura para toda comunidade. Casou-se com Pedro Augusto Virgínio no dia 06 de junho de 1938, celebrante o Padre Benedito Sabóia. Teve 13 filhos sendo 7 filhos homens e 6 filhas mulheres, dos 13 criou apenas 9 filhos. Que foram:

Maria do Carmo Câmara, 1939 (Maria do Café)
José de Oliveira Câmara, 1940 (Zé Bolinha) in memoriam,
Francisca Vinda Torres, 1941 (Netinha de Loloia)
Joana Vinda de Oliveira Torres, 1942(Joana de Dão)
Miguel de Oliveira Câmara, 1943 (Bil Câmara)
Teresinha de Oliveira Câmara, 1947
Moisés de Oliveira Câmara, 1949
Pedro de Oliveira Câmara, 1952
Josué Câmara Sobrinho,1957.

Veio morar na Comunidade Córrego logo após o seu casamento. Fez um trabalho Social criando na Comunidade, junto com o Pároco Pedro Neefs o 1º “Clube de Mães” com o nome: “Padre Pedro Neefs”. Fazendo com isso, a 1ª Associação na Área Social na Comunidade Córrego. Os objetivos do “Clube de Mães” eram distribuir alimentos, tais como: açúcar, óleo, bulgú (mais conhecido como bubu) e roupas, oriundas dos Estados Unidos da América (EUA), para os moradores mais carentes nos tempos difíceis. Em parceria com a Igreja Católica São João Batista e Nossa Senhora da Conceição de Apodi-RN. Através dessa associação foi criado o incentivo para construir o Mini Posto do Córrego. Como tudo era difícil, não durou muito fechou.

Com isso, Maria Vinda de Oliveira, percebendo a necessidade de uma assistência na área da saúde na comunidade, seu esposo: Pedro Augusto Virgínio doou um terreno em frente a sua residência e construíram o Posto de Saúde do Córrego. Pelo Serviço de Saúde Pública (antigo SESP). Atualmente Fundação Nacional da Saúde (FUNASA). Em parceria com a Prefeitura Municipal de Apodi, na pessoa de Valdomiro Pedro Viana, no ano de1979 e sua inauguração foi no dia 02 de junho de 1980. Lugar esse onde trabalhou por 33 anos o seu filho casula Josué Câmara Sobrinho.

Faleceu em 19 de maio de 1984, devido a um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Deixando todos os familiares e comunidade com uma grande saudade da: “Eterna Mãe do Córrego”.
No dia 05 de novembro de 2013, foi sancionada a lei que dá nome a UBS do Córrego de Maria Vinda de Oliveira - Mãe do Córrego, atendendo a solicitação da vereadora Soneth Ferreira.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Blog Fatos de Apodi - Portal Fatos do RN

Blog Fatos de Apodi ligado ao Portal  Fatos do RN  - 

Sejam todos bem vindos ao nosso novo espaço de resgate para a história da cidade de Apodi. Agradecemos a colaboração de todos por este belo projeto.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Primeiras Damas Municipais de Apodi

Joana Gomes de Góis Nogueira - Filha legítima do Tenente José de Góis Nogueira (Bisneto paterno da fundadora de Apodi Antonia de Freitas Nogueira e Manuel de Carvalho Tinoco). Joana faleceu em sua fazenda "São Lourenço das Várzeas do Apodi em 20.09.1864, deixando 07 filhos e vasta descendência de netos e bisnetos. Era casada com capitão JOÃO NOGUEIRA DA SILVEIRA, primeiro Administrador de Apodi

Maria Gomes da Silveira - Filha do Tenente Manoel João da Silveira, da Serra do Martins-RN e de Bonifácia Barbosa de Lucena. Foi a segunda Primeira-Dama, casada que foi com o Capitão VICENTE FERREIRA PINTO (1] desse nome e pai do 2º) , este viúvo e ela também viúva, ambos com descendência.

Maria Clara Alves Ferreira Cavalcanti - Era a esposa do também Capitão VICENTE FERREIRA PINTO (2º deste nome e filho do 1º) que por sua vez foram os pais do Coronel Antonio Ferreira Pinto.

Josefhina Zenóbia de Oliveira - Foi casada com o Capitão SEBASTIÃO CELINO DE OLIVEIRA PINTO (Capitão Tatão da Ponta, que foi o único potiguar a receber a comenda de Cavaleiro da Ordem da Rosa, diretamente das mãos de D. Pedro II. 

Claudina Maria de Oliveira Neves Pinto(Claudina Pinto) - Era prima legítima do esposo Coronel ANTONIO FERREIRA PINTO

Angélica Maria da Conceição Costa Silveira - Era filha legítima do Major Luís Soares da Silveira e Maria da Conceição Costa Silveira, naturais de Mamanguape-PB e residentes em Apodi, e foi esposa do Capitão JOSÉ SULPINO PAES BOTÃO (Da família Diógenes, do Ceará), natural de Riacho do Sangue-Ce, atual Potiretama-CE, filho do Major Joaquim Sulpino Paes Botão e de Thereza Maria de Jesus, naturais do Riacho do Sangue-CE

Antônia Gomes de Oliveira Pinto - filha do Capitão Sebastião Celino de Oliveira Pinto e Josefina Zenóbia de Oliveira Pinto, casada que foi com o seu primo em segundo grau o Capitão OCTAVIANO GOMES PINTO, natural de Portalegre-RN, filho de outro de igual nome

Isabel Sabino de Oliveira Filha - (Bebela do Coronel João Jázimo Pinto) casou com o seu parente Coronel JOÃO JÁZIMO DE OLIVEIRA PINTO, filho do Capitão Vicente Ferreira PInto (0 1º) e Joaquina Mariana de Jesus.

Antônia Zenóbia Ferreira Pinto - Filha do Coronel Antonio Ferreira Pinto e Claudina Pinto, casou com seu primo Major Francisco Diógenes Paes Botão, filho do Capitão Joaquim Sulpino Paes botão e sua segunda esposa Isabel Sabina de Oliveira. 

Maria Salomé Diógenes Pinto - Casou com seu primo em segundo grau o Coronel Francisco Ferreira Pinto


Adalgisa Pinto da Silveira - filha de Lucas Soares da Silveira e de Zulmira Ferreira Pinto (filha do Coronel Ferreira Pinto e Claudina Pinto) casou com seu primo em segundo grau Coronel LUCAS PINTO.

Maria do Carmo Maia Holanda - Natural de Apodi-RN, nascida em dia 21 de julho de 1927, filha de Alzira Magno Maia e Inácio Gabriel Maia. Foi Primeira Dama de Apodi no período de 1948 a 1952. Casada com o farmacêutico Francisco Holanda Cavalcante(Nenê Holanda).

Maria Zilar Holanda Pinto - Foi primeira Dama de Apodi de 1953 a 1958. Foi casada com o prefeito JOSÉ DA SILVEIRA PINTO (Dr. Zé Pinto).

Cezarina de Oliveira Pinto - casou com o auditor Fiscal JOÃO PINTO(filho do Coronel Francisco Pinto), prefeito de Apodi no período 1958-1963.

Maria Gomes de Oliveira - conhecida popularmente por Dona MARICA nascida a 12 de dezembro de 1912 e falecida em 5 de maio de 2005. Foi Primeira Dama por duas vezes: 1963-1968 e 1973-1976. Era Casada com o prefeito Izauro Camilo de Oliveira.

Maria Fernandes de Souza(Mozinha) - Também conhecida por ''Dona Mozinha'' Viana, nasceu nos campos floridos de algodão das várzeas do Sítio Santa Rosa, município de Apodi/RN, no dia 25 de dezembro de 1932. Filha dos agricultores Francisco Manuel de Sousa e Sebastiana Gurgel Fernandes. Foi Primeira Dama de Apodi por duas vezes: 1969-1972 e 1977-1981. Casada com Valdemiro Pedro Viana

Maria Zuleide Marinho - Filha de Antonio Francisco de Lima e de Julia Senhorinha de Lima, nasceu em 26 de setembro de 1944, no Sítio São Lourenço, em Apodi-RN. Foi primeira Dama de Apodi de 1983 a 1985, na gestão do seu marido Hélio Morais Marinho.

Ângela  Maria de Melo Freire - Natural de Apodi, filha de Sêu Luiz Gonzaga Melo Foi Primeira Dama no período de 1985 a 1988. É Casada com Ivo Freire de Araújo.

Maria Gorete Nogueira Costa - Natural de Apodi, nascida em 4 de junho de 1952, filha de Manoel Gurgel de Brito e de Cleonice Morais, foi Primeira Dama de Apodi de 1989 a 1992. É casada com Simão Nogueira Neto.

Mara Marlizete Duarte Marinho de Paiva - Nasceu no Sítio Juncal, Apodi-RN, filha de Antônio Duarte de Morais e Maria Lizete Marinho Duarte. Foi primeira Dama no período de 1997 a 2000. É casada com Evandro Marinho de Paiva(Vandinho).

Maria de Lourdes da Silveira Bezerra - A médica Dra. Lourdes, natural de Natal-RN. Filha do pequeno industrial, Severino Edísio da Silveira e da professora Catarina Soares da Silveira. Foi primeira Dama de Apodi por três vezes: 1993-1996; 2001-2005 e 2005-2008. É casada com o médico José Pinheiro Bezerra(Dr. Pinheiro).

Klébia Karina da Silva Gomes - Natural de Mossoró. É casada com o prefeito Flaviano Moreira Monteiro(2013-2016). 

Fontes: Paisagens Femininas de Apodi - Maio de 2006 - Vilmaci Viana 
Marcos Pinto - historiador apodiense.

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