segunda-feira, 20 de maio de 2013

Pedro Noronha - um desbravador apodiense na floresta amazônica (II)

Pedro Noronha e os seringueiros apodienses

A saga do segundo ciclo econômico da borracha (1942/1945) na floresta amazônica tem nomes de inúmeros apodienses amalgamados nas páginas de sua sua história. Posso imaginar suas horas de angústias e aflições caladas e reprimidas na solidão de suas noites, no isolamento daquela floresta a que voluntariamente se recolheram na busca por melhores dias para suas famílias que ficaram em Apodi. Todas as contingências adversas foram, sem dúvidas, embora jamais externados, profundos choques que lhes atingiram os corações generosos.

Lá no seringal muitos se deixaram ficar, sem perspectivas senão o descanso final para corpos baqueados pela malária e febre amarela. Foram homens que as mais humildes ilusões perderam no seu cotidiano e ingrato labutar. Heróis anônimos que equilibravam-se de acordo com as circunstâncias, entre tendências em conflito e a permanente insatisfação pelo salário obtido na extração do látex, não condizente com os árduos dias de suor e lágrimas. O desenvolvimento urbano das cidades de Manaus e Belém do Pará deve-se à estes intemeratos homens, sendo certo que muitos apodienses resolveram fixar residência definitiva nestas cidades polos, concretizando a triste realidade dos que fizeram O CAMINHO SEM VOLTA.

SEMTA - Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia.

Não há como fazer a abordagem histórica sobre o segundo ciclo econômico da borracha sem fazer referência ao SEMTA - Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia. Criado em 1943 pelo então Presidente Getúlio Vargas, tinha como finalidade principal o alistamento compulsório, treinamento e transporte de nordestinos para a extração da borracha na amazônia. A matéria-prima era fornecida aos aliados da II Guerra Mundial. O SEMTA fazia parte do Departamento Nacional de Imigração (DNI).

Era financiado por um Fundo Especial da RUBER DEVELOPMENT CORPORATION (RDC), criado com o selamento dos acordos de Washington - E.U.A. O RDC era financiado com capital das indústrias Estadunidenses. O SEMTA tinha a sua sede em Fortaleza. O indômitoPEDRO NORONHA foi uma figura de proa no processo de agenciamento e recrutamento de mão-de-obra desses heroicos homens e mulheres apodienses, que deixaram sua terra e sua gente para enfrentarem os desafios do eldorado amazonense. A escolha do nordeste como sede do SEMTA deveu-se essencialmente como resposta a uma seca devastadora na região e à crise sem precedentes que os agricultores enfrentavam.


Soldados da borracha, partindo de Fortaleza, Ceará, no ano de 1943

Pedro Noronha atuava como um dos prepostos do RDC/SEMTA, custeando as despesas dos deslocamentos desses trabalhadores braçais, que logo passaram a serem conhecidos como "SOLDADOS DA BORRACHA". De Apodi à Fortaleza a viagem era feita em um caminhão apinhado de homens. Em Fortaleza eram acomodados em locais conhecidos como os CURRAIS DO GOVERNO, de onde eram conduzidos até o Porto,onde embarcavam com destino à Belém do Pará e Manaus, numa viagem que podia durar de 2 a 3 meses. O governo dos Estados Unidos pagava ao governo brasileiro 100 dólares por cada trabalhador entregue na Amazônia.

O Nordeste foi o principal fornecedor de mão-de-obra para a extração e comercialização da borracha, tendo enviado 54 mil trabalhadores, sendo 30 mil deles apenas do Ceará. Observe-se que os potiguares eram embarcados em Fortaleza como se fossem cearenses. Como os seringais estavam abandonados desde o término do PRIMEIRO CICLO DA BORRACHA - 1879/1912, e não mais de 35 mil trabalhadores, permaneciam na região, o grande desafio do Presidente Getúlio Vargas era aumentar a produção de látex (seiva/leite vegetal que cozida se transforma em borracha) de 18 mil para 45 toneladas, como previa o acordo com os Estados Unidos.

Para isso seria necessário a força braçal de 100 mil homens. Dentre os apodienses recrutados pelo Sr. PEDRO NORONHA para trabalharem no seringal "Igualdade" destacaram-se a viúva dona VIGOLVINA e seus dois filhos JOÃO e PINTA, como também Manezim Reinaldo e esposa, pais de Raimundo da Cantina, que nasceu no "Igualdade" pelas sacrossantas mãos de uma parteira, diligenciada pelo jovem Francisco Paulo Freire (Chico Paulo) que contava 18 anos de idade e também labutava naquele famoso seringal. Cito, ainda, por fonte segura, os seringueiros apodienses CHICO CACHIMBINHO e seus dois genros WILSON NORONHA e NORONHINHA; JOÃO VALDEVINO, casado com Maria de Freitas, irmã de Sebastião de Freitas, que por sua vez era genro de Pedro Noronha, casado que era com Amélia Noronha. Sebastião era natural de São Sebastião de Mossoró, atual cidade de nome Governador Dix-Sept Rosado, filho de Pedro de Freitas Costa e de Raimunda de Freitas Costa.

Neto paterno de Pragmácio, conhecido como PREGMÁCIO, muito conhecido por ser dono de uma venda/rancho à margem da antiga estrada que margeava o Rio Apodi, em terras da antiga povoação de São Sebastião de Mossoró. Esta pousada do PREGMÁCIO era ponto de parada para repouso dos animais que compunham comboios de mercadorias e seus respectivos comboieiros. A esposa de João Valdevino faleceu em decorrência de um parto, em que a filha sobreviveu, o que fez com que o mesmo retornasse com a filha para o Apodi, onde tinha um sítio. Mais tarde essa filha faleceu, à exemplo de sua mãe, em decorrência doparto.

A composição dos seringueiros do "Igualdade" contava com muitos parentes do Pedro Noronha, destacando-se o seu irmão JOSÉ UMBELINO DE NORONHA FILHO, que era casado com Alice e que no ano de 1944 tinha duas filhas de nomes Estelita e Telina (Quelina). Tinha o JACINTO NORONHA, sobrinho de Pedro, e casado com uma filha deste, de nome LINDALVA, ainda vivos e gozando de plena saúde. Tinha o JOÃO BASÍLIO, genro de Pedro, posto que casado com ISABEL NORONHA. Ainda as figuras do SEBASTIÃO NORONHA, que era surdo-mudo e primo de Pedro, casado com dona QUERIDA, e o Sr. TIBÚRCIO NORONHA, que tinha uma filha com problemas psíquicos, de nome Rita.

Labutavam também no "Igualdade" os intrépidos irmãos JOÃO EVANGELISTA PINTO e JOÃO GOMES PINTO, conhecido como JOÃO DO SALGADO, filhos de Telésforo Gomes Pinto. O primeiro era casado com Maria de Lourdes, irmã de Palmira Carvalho. O 2° era casado com Maria Severina de Carvalho, irmã de Raimundo Nonato de França, que por sua vez era caado com PALMIRA PINTO DE CARVALHO, filha de Antonio Lucas de Carvalho e Antonia Gomes Pinto. Raimundo e Palmira foram para o Amazonas em junho de 1949 com uma filha de dois meses de idade, de nome FÁTIMA FRANÇA, que colaborou decisivamente para a elaboração deste despretensioso artigo. PEDRO NORONHA faleceu em 12 de setembro de 1987.

Por Marcos Pinto - historiador apodiense

terça-feira, 14 de maio de 2013

Margarida de Freitas

MARGARIDA DE FREITAS, ou Margarida de Oliveira Nogueira, natural de Nossa Senhora das Neves(atual João Pessoa), Paraíba, nascida no ano de 1652, filha de Manoel Nogueira Ferreira, colonizador e fundador do Apodi, e de Maria de Oliveira Correia. 

Margarida, hoje nome de rua, foi uma das primeiras colonizadoras dos sertões apodienses em 1680. Era casada com o português Carlos Vidal Borromeu. Foi a mulher que ficou muito conhecida na Ribeira do Apodi, pela grande quantidade de terra que possuía na região, casada com o português Carlos Vidal Borromeu, que veio morar em Portalegre na primeira metade do século XVIII. 

Em quatro de junho de 1740, Margarida de Oliveira Nogueira, que também aparece na documentação como Margarida de Freitas Nogueira e Margarida de Freitas e sua irmã Antonia de Freitas, filhas de Manoel Nogueira,  requereram registro de uma carta de data e sesmaria na terra do Apanha Peixe e do Boqueirão, na Ribeira do 18 Apodi, seguindo os passos do pai como sesmeiras e posseiras dessa Ribeira. Margarida faleceu em sua fazenda ‘São Lourenço’, em Apodi no dia 8 de julho de 1772. 

Fonte: Livro digital: Portalegre do Brasil – História e Desenvolvimento - 250 anos de Fundação de Portalegre

Pedro Noronha - Um desbravador apodiense na floresta amazônica (I)

O município de Apodi tem seu nome registrado em referenciais históricos de longínquos rincões deste país, através de seus filhos, que procuraram novos horizontes em outras plagas. Com suas abnegadas e indômitas participações, fundaram vilas e cidades, rasgando matas virgens e deixando suas pegadas nos fastos do progresso. Dentre cidades fundadas por Apodienses, destacam-se Jati, no Estado do Ceará, fundada por Antonio Moura, seu filho Antonio da Cunha Moura e Anastácio de Moura, e a cidade Dianópolis do Estado do Tocantins, do antigo Estado de Goiás, fundada pelo destemido Francisco Liberato da Silva Costa, em 1890. Tangidos pelas secas inclementes, geralmente tinham a floresta amazônica como destino de suas profícuas labutas. Dentre estes indômitos heróis esquecidos, sobressai-se a figura sertaneja de fibra e arrojo de um PEDRO JOSÉ DE NORONHA. Nasceu em Apodi a 29 de Abril de 1896, filho legítimo de José Umbelino de Noronha e de Alexandrina Gomes Pinto; neto paterno de Sebastião Gomes de Oliveira (Tatão Paulino) e de Francisca Gomes de Oliveira. Neto materno de Alexandre Ferreira Pinto e de Maria Gomes da Assunção. Casou com Isabel Sofia Pinto, filha de Vicente Gomes Ferreira Pinto (Vicente Xandú) e de Maria Belisa da Silva Filha (Marica). A veneranda Sra. Lindalva Noronha, (Filha de Pedro Noronha) fez um trabalho de importante cunho histórico-familiar sobre a saga de seu pai, intitulado "Datas Inesquecíveis", do qual transcrevo os seguintes trechos:

“Por volta de 1944, uma companhia americana em comum acordo com o governo brasileiro, passou a transportar para o Amazonas, qualquer pessoa que quisesse trabalhar na extração da borracha”. Pedro Noronha, seus filhos José e Vicente e seu genro Lucas, embarcaram para o Amazonas, deixando suas famílias chorando de dor e saudades.

Pedro Noronha aos 90 anos

O Nordestino é acima de tudo um forte, um guerreiro! A viagem de navio era longa e penosa. Chegando a Manaus, foram apresentados a um “certo patrão” – Rui Ascensão que logo providenciou para que eles embarcassem num outro navio que os levaria a um Seringal às margens do rio Purus. Com eles também iam muitos outros nordestinos e até alguns parentes.

Seu Rui percebeu logo o caráter e a disposição daqueles homens mandou que Pedro Noronha e os demais fossem trabalhar numa “colocação” de nome Igualdade às margens do Rio Purus.

Isabel Sofia e Pedro Noronha

Pedro José de Noronha, descendente de uma família nobre do RN casado com sua prima Izabel Sofia (F) Pinto (Mimosa). Izabel e Antonia (mãe de Palmira) eram filhas de Vicente Gomes Ferreira Pinto e Maria Belisa da Silva Filha (Marica). Pedro Noronha e Izabel foram pais de doze filhos. Dois deles morreram logo, ficando apenas dez, sendo seis homens:

José (Dé)
Vicente (futuro administrador do Seringal)
Sebastião (o Noroinha)
Pedro (o Totó)
Francisco (o Chiquito)
Geraldo (o Bial)

E quatro mulheres:

Maria (a 1ª filha já casada com Lucas de Tatão Paulino e com duas filhas e grávida pela 3ª vez)
Amélia (casou com Sebastião de Freitas)
Izabel (casou com João Basílio)
Lindalva (casou com Jacinto)

Na tal colocação denominada Igualdade, só havia até então um velho barracão coberto de palha, suspenso do chão e até as paredes, eram de palhas. A panela onde cozinhavam o feijão, o peixe, a caça era pendurada numa corda e o fogo de lenha embaixo".

O barracão velho e o novo

O seringal "Igualdade" situava-se às margens do rio Purus, e pertencia ao município de Labre, no estado do Amazonas. Na margem direita do rio era o lado agrícola, onde havia moinho para prensar a cana e daí todo o processo para obter os derivados da cana: garapa, açúcar preto, rapadura, batida, alfenim, álcool, e a cachaça que tinha o nome de "Me solte". Nesta particularidade do nome da aguardente entra o apodiense FRANCISCO PAULO FREIRE (Sêo Chico Paulo). Por volta do ano de 1949 o mesmo esteve trabalhando no seringal "Igualdade", onde amealhou considerável recurso econômico, o que proporcionou o seu retorno à Apodi, tendo comprado muitos bens imóveis, dentre eles a fazenda "Salgado". Nesta fazenda, sêo Chico Paulo fez um resgate histórico de sua estadia no Amazonas, tendo instalado um alambique, produzindo uma saborosa aguardente à qual deu o nome de "ME SOLTE".

Pedro Noronha e os seringueiros

Ainda sobre o seringal "Igualdade" - A maioria dos seringueiros eram Apodienses recrutadas por Pedro Noronha, de preferência parentes das famílias PAULINO e PINTO, radicadas no sítio "Melancias". Na margem onde ficavam as casas havia muita árvores frutíferas.

Desse modo, havia a criação de bovinos, caprinos, ovinos, suínos, galináceos de muitas espécies. Alguns homens ainda caçavam e a caça era farta. Pescava-se de rede, de arpão e de anzol no rio e nos igarapés. O pirarucu era muito apreciado.


*Escrito por Marcos Pinto e Lindalva Noronha.

Pesquisar este blog

Facebook