Júlio Marinho foi uma dessas figuras que conhecemos muito de perto, a quem não se pode negar sua extraordinária voçação para o trabalho, a sua vontade incontida de vencer na vida, economicamente. Com muita luta, persistência e economia, tornou-se um dos homens mais ricos do Apodi. Acima dele, no seu tempo, só o Coronel Lucas Pinto, com quem competiu durante anos no comércio de exportação do município.
Nasceu no Sítio Boa Vista, em Apodi, no dia 11 de outubro de 1911. Era filho de Braz Marinho de Oliveira e Francisca Antonia da Mota. Casou-se com Abília Marinho de Oliveira. Desse casamento houve os seguintes filhos: Celso Marinho de Oliveira(in memoriam), Cleton Marinho, Celcina Marinho da Silveira, Celestina Marinho de Oliveira, Eugênio Marinho de Oliveira, Cleodon Marinho de Oliveira, Clidenor Marinho de Oliveira, José Marinho de Oliveira, Francisco Júlio Marinho(in memoriam), Júlio Marinho Filho e Maria Gorette Marinho.
Criados sob um regime de trabalho permanente e rigorosa obediência ao pai.
Como se vê uma família numerosa. Todos estudaram mais apenas um, o Eugênio conseguiu formar-se em engenharia agronômica.
Júlio aprendeu a ler e a escrever com o professor particular Vicentinho Beltrão, com quem estudou apenas três meses.
Trabalhou durante 13 anos ajudando o pai nas atividades agrícolas, plantando algodão, feijão e milho no Vale do Apodi. Nos meses de verão era comboieiro, com uma tropa de burros, transportando mercadorias, ida e volta, de lugares distantes, inclusive para abastecer a cidade. Naquela época os transportes eram feitos em lombo de animal e em carro de boi. Não havia caminhão. Com a morte do pai ficou responsável pelo sustento dos irmãos menores de idade que ainda não trabalhavam.
Sempre teve o equilibrado senso de economia. E com este propósito conseguiu juntar algum dinheiro.
Suas diversões prediletas eram: cantorias de violeiros repentistas, bumba-meu-boi(papangu). Nas horas mais vagas gostava de tomar sua pinga. Descuidava-se, às vezes, e se excedia um pouco, quando era preciso a presença de familiares para o levarem para casa. Nessas ocasiões usava um vocabulário(palavras) impróprio, porém, sem a intenção de magoar alguém. Todos compreendiam e toleravam. O primeiro sinal de que estava bebendo era usar a frase: “tá com medo?”, que gostava de pronunciar.
Foi esposo e pai exemplar, criando seus filhos num regime de disciplina muito rígida.Seu relacionamento com a família se caracterizava pelos sentimentos de consideração a todos, dando exemplo do seu trabalho constante e produtivo. Dava também aos filhos o exemplo de respeito às pessoas. Assim viveu, merecendo a admiração e estima de todos. Se errou alguma vez, é coisa própria da natureza humana. Todos erram.
Foi um trabalhador incansável. Fosse qual fosse a atividade – agricultor, comboieiro, comerciante, madrugava no trabalho, no qual se ocupava 16 horas por dia. Não tinha dias reservados para descanso ou repouso. Nunca soube o que foi gozar férias. Somente por motivos justificado poderia interromper suas atividades. Era um obcecado pelo trabalho, pela luta diária. No dia a dia adotava medidas rigorosas para determinados hábitos. Não tinha horário certo. Ocorria no momento em que as circunstâncias permitissem.
Era um homem extremamente simples. Não ostentava vaidade de qualquer espécie. Sua casa de morada não correspondia aos padrões de uma família economicamente independente. Júlio trajava com muita simplicidade. Calça de brim, camisa de trincoline, chapéu de massa ou de palha, às vezes usava chapéu de couro, alpercatas, para ele estava bem. Em reuniões importantes usava traje diferente. Seu escritório comercial era igualmente simples. Um velho birô, um cofre e alguns tamboretes. Ali recebia fregueses, comerciantes, políticos, pessoas importantes.
O COMERCIANTE – Neste ramo Júlio iniciou com um pequena bodega(hoje mercearia). Para este modesto empreendimento tomou certa quantia em dinheiro, emprestada, ao seu tio José Marinho. Homem rico que desejava ajudar o sobrinho, reconhecendo nele qualidades para fazê-lo progredir naquela atividade.
Esse pequeno negócio comercial abriu as portas para a arrancada triunfal do novo comerciante no comércio de exportação. Passou a comprar algodão, cera de carnaúba e semente de oiticica, tornando-se dentro de pouco tempo grande exportador desses produtos, negociando com grandes firmas exportadoras como MACHADO S/A, Fortaleza – CE, SANBRA S/A, Paraíba, TERTULANO FERNANDES, Mossoró –RN, BRASIL OITICICA, Mossoró-RN e outras.
Nessa nova atividade Júlio Marinho não demorou a construir grande patrimônio,composto de imóveis rurais(propriedades), casas e prédios na cidade, rebanhos de variadas espécies de animais.
O POLÍTICO – Como líder de uma das maiores família do município – MARINHO – Júlio envolveu-se em todas as lutas políticas em Apodi, desde 1934, ao lado do Coronel Lucas Pinto. Era um forte admirador de Dinarte Mariz, um dos mais populares políticos do Estado, chegando a ser eleito governador. Na eleição de 1948, Júlio foi eleito vereador pelo Partido Social Democrático – PSD. Em 1952, elegeu-se vice-prefeito com o Dr. José da Silveira Pinto, prefeito. Depois elegeu seu filho Celso Marinho ao cargo de vereador. Muitos amigos e fregueses, compadres e parentes numerosos, que seguiam sua orientação política, Júlio Marinho representava uma força eleitoral capaz de decidir um pleito político em Apodi. Em 1962, foi candidato a vice-prefeito na chapa do Dr. Newton Pinto a prefeito, e foram derrotados, devido a um erro político e administrativo do Coronel Lucas Pinto ao influir para anular a criação do município de Felipe Guerra, que tinha sido desmembrado de Apodi.
Em 1968, desligou-se do poderoso Partido Social Democrático – PSD do Coronel Lucas Pinto, para integrar os quadros da UDN a que estava ligado o seu parente Izauro Camilo de Oliveira, que naquele ano, lançou como candidato a prefeito o senhor Valdemiro Pedro Viana, conseguindo eleger-se. Daí em diante Júlio continuou apoiando Izauro Camilo em todas as eleições realizadas em Apodi.
Júlio Marinho, deu sem dúvida, valiosa contribuição à economia do município, desenvolvendo a agricultura e a pecuária, nas diversas propriedades que possuía, dando emprego a muitas pessoas. No comércio de exportação Júlio Marinho atraía capital para o município, vendendo às firmas comerciais variados produtos exportados. Ele faz parte da história econômica do município, tal como Coronel Lucas Pinto, o homem mais rico do município naquela época.
Não era muito preocupado com a sua saúde. Internado num hospital de Mossoró, por ter sofrido violenta queda, recebeu certo dia a visita de familiares. Preocupado com os negócios pediu-lhes que o levassem de volta, pois se achava bom. Mas não era o dia da alta. Prometeram que o apanhariam à tarde. Ele conheceu que a promessa era falsa. Fugiu do hospital, pegou um táxi e parou em casa. Qual não foi o espanto dos filhos ao retornarem de Mossoró, encontrando Júlio deitado numa espreguiçadeira, na sua casa, em Apodi.
De qualquer maneira, podemos dizer que Júlio Marinho foi um homem de bem, inofensivo, honrado. A prova maior de sua conduta exemplar é não ter deixado inimigos, sem recriminações contra sua pessoa, por injustiça praticada contra ninguém. No dia 25 de novembro de 1992, morria Júlio Marinho. Com a fama e a glória de ter sido um dos mais autênticos trabalhadores do Apodi.
Fonte: Mistura de Frases e Palavras - Válter de Brito Guerra(1998).
Blog Fatos de Apodi - Portal Fatos do RN
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