domingo, 17 de janeiro de 2021

A memoria de uma senhora illustre


A memoria de uma SENHORA ILLUSTRE 

Traços biographicos 

D. Claudina Maria de Oliveira Neves, é descendente de uma familia distincta deste municipio, nasceu aos 05 de Agosto de 1847,  no logar Malhada Vermelha, sendo seus paes o capitão Sebastião Celino de Oliveira Pinto e d. Josefina Zenobia de Oliveira, foi baptisada aos 23 do dito mez de Agosto por seu tio o Pe João Crisostomo de Oliveira Pinto Brasil, casou-se em 10 de Agosto de 1865, na edade de 18 annos e 5 dias, cujo celebrante do acto religioso foi o Pe. Clementino José Fernandes, com  seu primo o coronel Antonio Ferreira Pinto, tendo 12 filhos deste abençoado consorcio, sendo 8 homens e 04 mulheres, e 18 netos, sendo 07 homens e 11 mulheres; viveu casada 37 annos e 21 dias e faleceu pelas 08 horas da noite do dia 31 de Agosto do corrente anno, contando a edade de 55 annos e 26 dias, gosando o doce nome de esposa modello e exemplar nome de familia. 

A caridade, essa sublime virtude christã, unica fonte da felicidade terrena, quem a pratica sem vaidade, assemelha-se ao Divino Mestre; ella a sabia distribuir aos necessitados e desprotegidos da sorte, com o riso nos labios e o prazer no coração. 

Sendo a sua morte geralmente sentida, e pranteada por todos aquelles que della recebiam o pão e todos n'uma voz, carpindo exclamavam - Tudo devemos ao anjo da Caridade que descança no seio do Eterno entre os Serafins. 

Com o excessivo prazer que tinha estendia a sua caridosa mão com pão para mitigar a fome do necessitado e cobrir a fome do desprotegido, com a mesma pureza de coração dava o seu obulo para as obras pias, na manutenção do culto de nossa santa religião; era christã e religiosa em gráo sublime, sem fanatismo. Era presidenta da associação do Sagrado Coração de Jesus, installada nesta freguezia. 

O seu passamento teve logar na época da Visita Pastoral, momentos antes de terminar o fio de sua existência, foi confessada pelo exmo. e rdmo. sr. d. Adaucto Aurelio de Miranda Henriques, Bispo Diocesano, e logo depois recebeu o Sagrado Viatico, ministrado pelo Pe. José Thomaz Gomes da Silva, muito digno secretario do bispado, sendo acompanhado pelos padres: Aristides Ferreira da Cruz, Alfredo Pegado de Castro, Gabriel Pereira da Rocha, Tertuliano Fernandes de Queiroz, os menoristas Antonio Firmino Brilhante e Vicente Pimentel, pela Irmandade do S. Sacramento e uma massa compacta de mais de mil pessoas; em suas ultimas agonias, quando exalou o seu angelico espirito, foi assistida e confortada pelo virtuoso Pe. Alfredo Pegado de Castro e depois que finou-se compareceu o mesmo exmo. Bispo, confortou com umas palavras cheias de uncção a familia desolada da illustre morta, que n'aquella ocasiao estava inconsalavel, carpindo o terrivel golpe que acabava de passar.

Pelas 7 horas da manhan do dia 1º do corrente, teve logar o saimento do cadaver da illustre finada, sendo acompanhado pelos 5 padres, os 2 minoristas e mais de mil pessoas e foi depositado o caixão no corpo da Egreja Matriz entre uma massa de mais de três mil pessoas, tendo antes do saimento sido celebradas 6 missas pelos padres, inclusive o exmo. sr. bispo e muitas communhões d'aquelle dia, sendo offerecido pelo repouso eterno da alma da finada, foi cantada a encommendação de corpo presente, depois do que seguiu um numeroso prestito a desositar o cadaver em sua ultima morada, sendo acompanhado pelas zeladoras do Sagrado Coração de Jezus até o cimiterio e na ala ocedental do mesmo em uma catatumba que foi benzida pelos padres, descançam os restos mortais daquella que viveu entre nós, com o nome de Claudina Maria de Oliveira Neves, sendo a esposa modello, a mãe de família exemplar, a alma bemfazeja e caridosa. 

No dia de hoje, 15º dia do seu enterro, foi celebrada missa e memento por alma da illustre finada, tendo affluido ao sacro recinto do Templo, mais de 400 pessoas de todas as cores, sexos e idades. 

É de crer, segundo os dogmas de nossa Santa Religião, que o nosso Bom Deus, guardo aquelle tempo do Jubileu e graças da Visita Pastoral nesta frequezia para mandar os dois anjos lançar a alma candida de sua devota, assim o devemos crer, porque em todas as fazes de seu passamento desta para a melhor vida, presenciamos a morte do justo. 

A barbaridade cega do destino, acaba de cortar o precioso fio da existencia de uma creatura virtuosa, sendo sempre durante a sua vida, apreciada, não só só pelos dotes espirituaes que tanto ornamentavam, como pela somma de bens que espalhava por aquellas que a rodeavam, porem o que acima de tudo, todos somos forçados a lastimar, é a perda da mãe de familia extremosa, dedicada, honesta e laboriosa. 

A maternidade, estado purificador de todas as maculas da mulher, foi para ella um verdadeiro apostolado, eu creio que do peito de seus filhos, nunca se apagará a imagem da Santa que lhes insuflora vida, cercando-os continuamente dos mais extremos carinhos, fasendo os desde os primeiros balbuciamentos soletrar os principios da honra e da virtude. 

Não é só a prole, mas também a sociedade e a patria que tem a prantear essa perda irreparável, a morte da virtuosa senhora que deixa um legado aos filhos, um passado nobílissimo, onde se reflectem as acções mais benemeritas  e philantropicas. Receba o Senhor a sua alma na mansão dos justos, e que esse nos transmitta pela sua infitinita bondade, alguns dos sentimentos que tanto a engradeceram. 

As lágrimas que em vão procuro reter, embarbaram a voz, e a magoa que me enche o peito embaraça-me o falar; deixamol-a, pois, dormir o seu ultimo somnno e que Deus a receba em sua Santa Glória. 
Requiescat in paçe. 

Cidade do Apody, 15 de Setembro de 1902. 
Manoel Antônio de Oliveira Coriolano 


*Texto extraído do Jornal "A República: orgão do partido republicano(RN) - 1897 a 1907". 

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